Por Bia Medina
No Brasil, chamamos de jacquard todas as técnicas de tricô que envolvem o uso simultâneo de fios de cores diferentes. O nome vem do francês Joseph Marie Jacquard, que no século XIX inventou uma máquina capaz de criar tecidos coloridos usando fios de diversas cores.
A Noruega é um dos países famosos pelos padrões multicoloridos e bastante característicos do seu tricô. E numa ilha escocesa chamada Fair Isle surgiu outra modalidade desse tipo trabalho, tão apreciada que adotou o nome da própria ilha para se distinguir do jacquard em geral, ou “stranded knitting”, que é como se chama essa técnica em inglês.
Aqui no Brasil usamos um nome só, jacquard, para todas as variedades do trabalho com várias cores simultâneas. Já em inglês os nomes são muitos, o que pode confundir a tricoteira. Vamos dar uma breve explicação de cada nome encontrado em blogs e sites estrangeiros.

Luvas norueguesas: um exemplo clássico de Stranded Knitting
* Stranded Knitting -“Strand”, em inglês, quer dizer fio, cabo, corda. É o fio que fica solto no avesso do trabalho e vai de um ponto a outro da mesma cor.
Chama-se assim todo trabalho com mais de uma cor em que os vários fios são usados pela carreira toda, sendo que a cor não usada é passada frouxamente pelo avesso do trabalho até chegar aonde voltará a ser empregada.

Fair Isle: abundância de cores.
* Fair Isle - É uma das técnicas de jacquard ou stranded knitting, especificamente a que foi desenvolvida na Fair Isle, a Ilha Bela dos britânicos, entre o arquipélago de Shetland e o de Orkney, ao norte da Escócia, na altura da Noruega, fazendo o limite entre o Mar do Norte e o Atlântico… onde se faziam a mão os casacos cheios de desenhos que viraram moda na década de 1920.
As mulheres dos pescadores de Fair Isle tricotavam casacos em carreiras circulares, usando jogos de agulhas, fazendo motivos bicolores arrumados em listras, em geral (mas nem sempre) mantendo a mesma cor de fundo e variando a segunda cor a cada faixa, ou mais de uma vez a cada faixa, mas fazendo sempre cada carreira com apenas duas cores.
Essa distinção entre Fair Isle e os outros tipos de jacquard é muito importante para os ingleses porque foi lá que inventaram essa variante do trabalho com mais de uma cor.
Ingleses x noruegueses – A técnica de tricotar com duas cores era muito comum na Noruega e talvez tenham sido os pescadores noruegueses que inspiraram os moradores da Fair Isle, mas na ilha britânica o resultado é diferente. No tricô norueguês, o mais comum é usar apenas duas cores na peça toda – branco/creme/ cru como fundo e outra cor viva para formar os desenhos. No Fair Isle, a primeira cor nem sempre é branco e nem sempre é uma só, e a segunda cor também pode variar bastante. Embora sejam sempre duas cores a cada carreira, não é difícil encontrar peças com mais de dez cores no total. Além disso, os motivos noruegueses tradicionais são maiores e não se arrumam necessariamente em faixas estreitas, como no Fair Isle.
Tudo isso está incluído no jacquard, ou tricô “com fios pelo avesso”. Essa poderia ser uma tradução ao pé da letra de stranded knitting.
Todo Fair Isle é Stranded Knitting. Mas nem todo Stranded Knitting é Fair Isle.

Intarsia: desenho sólido, sem entrelaçamento de fios.
* Intarsia - essa palavra italiana, que “marchetaria”, também é usada, no inglês e em outras línguas, para significar um tipo de tricô feito com várias cores. No intarsia, usam-se bolinhas de fio de cores diferentes para tricotar manchas de cor. Não há fios soltos passando pelo avesso ligando essas áreas de cor independentes, até porque elas podem ficar muito distantes umas das outras e não é bom passar fios soltos por trás de mais de cinco pontos. Na mesma carreira, trabalha-se com uma cor de cada vez e os fios são cruzados no ponto onde se encontram; abandona-se um, passa-se a usar o outro.
O avesso do intarsia é quase uma reprodução do direito, com apenas os cruzamentos e arremates dos fios para estragar o visual. É praticamente impossível trabalhar intarsia em carreiras circulares; há jeitos, mas são tão trabalhosos que não valem a pena, a não ser que seja um motivinho pequeno que não ocupe a peça toda – e nesse caso, no trabalho circular, talvez seja mais fácil bordar o desenho em ponto malha por cima da peça pronta.
Muito bom, e como diz o ditado ” quem lê sabe mais, e vai mais longe”.
Sensacional essa explicação!
Prá mim, tudo novidade.
Vcs são D+ !!!
Kisses
Véra
Muito boa a explicação,gosto de tricotar colorido,porem esta dificil em encontrar revistas com esses padroes.
[...] Tricoteiras: Você gosta bastante do estilo Fair Isle, de onde veio essa paixão (podemos chamar de paixão, certo?) Felipe: Para os que não sabem o que é o estilo “Fair Isle”, trata-se de uma técnica supostamente oriunda da ilha “Fair Isle”, localizada no norte da Escócia, no qual formas geométricas específicas são desenhadas com a mescla de diferentes cores. O resultado é um trabalho colorido e alegre, além de muito elegante. A paixão por esse estilo veio de um DVD de Meg Swansen chamado “Fair Isle Vest”. É um tutorial em que Meg ensina a tricotar um colete nesse estilo. O vídeo é encantador, não só pelo conteúdo didático, mas por toda a produção: as tomadas feitas por seu marido, a localidade em que foi filmado, as peças cedidas por diversas tricoteiras para uma sessão de demonstração feita por Meg. Enfim, o vídeo é uma verdadeira obra de arte. Assim, decidi reproduzir a peça, entusiasmado pelo desafio da complexidade aparente desse estilo. Ao final, percebi que o estilo “Fair Isle” não é tão complicado assim. Adquiri dois livros dedicados ao assunto, das autoras Sheila McGregor e Alice Starmore, nos quais pude aprofundar meu conhecimento sobre o estilo e perceber que as possibilidades de desenhos e combinação de cores são infinitas. Em seguida, veio o desafio de reproduzir uma peça tradicional existente num museu da ilha Shetland, na Escócia, a partir de apenas duas fotos existentes nesses livros. Foi uma saga e tanto. Mas ao final, consegui completar minha odisséia e a dediquei a uma grande tricoteira chamada Joyce Williams, amiga de Meg Swansen, mas que, infelizmente, não tive a chance de conhecer. Fiz um vídeo sobre esse projeto que está disponível no youtube. Tricoteiras: Os DVDs da EZ e Meg Swansen estão na minha lista de desejo e nós falamos um pouco sobre tricô colorido aqui. [...]